Saudações jurídicas, nobres observadores (as), como se sentem?
Meu amigo Alfred Montapert, disse uma vez num ensaio intitulado “A escolha inteligente” que uma vida bem sucedida depende das escolhas que fizermos e que o destino é a seara que cresce da semente da escolha. Assim, postarei para nós hoje uma refinada reportagem da Veja (Quando o sucesso é quase uma lei, 11 de novembro de 2009) acerca da escolha do Direito. A carta da reportagem anuncia “Apesar da competição acirrada, ainda vale a pena ter esse canudo”. Cuidem-se, doutoras e escolham direito. Um beijo.
Quando o sucesso é quase uma lei
Prestígio social, ótima remuneração e complexidades trazidas pela modernização do país, que criaram novos horizontes para o direito, estimulam os jovens a ser advogados
No Brasil, nem os médicos são tão "doutores" quanto os advogados. As origens dessa deferência remontam ao período colonial, quando os ricos enviavam seus filhos para estudar direito na Universidade de Coimbra, em Portugal. Entre outras facilidades, o diploma lhes franqueava acesso aos cargos mais altos da administração pública. Essa tradição sobreviveu à República. Mais da metade dos presidentes brasileiros passou pelos bancos do direito. Um terço dos senadores e deputados federais atuais seguiu esse caminho. O prestígio do curso continua alto: seus vestibulares recebem 550 000 inscrições por ano, o que o torna o terceiro mais procurado pelos brasileiros. Para além da tradição, o fato é que, a partir de meados dos anos 90, novas oportunidades se abriram para os advogados. No setor público, os governos voltaram a realizar concursos. Das 120 000 vagas disputadas em 2008, uma parte expressiva foi reservada para quem cursou direito.
Também se abriram novas frentes para advogados no setor privado. Há dez anos, assuntos como energia e telecomunicações eram privativos de engenheiros. Hoje, graças ao processo de privatização e à complexidade dos contratos dele resultantes, pululam advogados especializados nessas áreas. Quando se retrocede no tempo, constata-se, ainda, que a Constituição de 1988 foi determinante para semear outros campos, como o do direito do consumidor, o previdenciário e o ambiental. Em 1995, a reforma do capítulo econômico da Constituição abriu uma gama de possibilidades a quem se dedicava ao direito administrativo, por causa do surgimento das questões regulatórias. E a estabilização da economia impulsionou o direito comercial internacional e o societário. Por último, áreas já consagradas, como a do direito penal, deram filhotes. Formaram-se especialistas em crimes do colarinho-branco, cuja legislação tem apenas 23 anos. "Tudo isso é fruto do avanço da sociedade, que ficou mais complexa e, portanto, produz problemas também mais complexos", resume Mário Nogueira, do escritório Demarest & Almeida.

Uma das consequências dos horizontes mais vastos é que os advogados passaram a ganhar mais. Uma pesquisa da consultoria Hewitt Associates mostra que, não raro, a remuneração de advogados de grandes empresas privadas alcança 40 000 reais mensais. No setor público, o salário de um juiz pode chegar a 25 700 reais. Vencimentos como esses, somados ao status social que a profissão confere, provocaram uma corrida às faculdades de direito. O número de bacharéis em direito formados por ano dobrou desde 1997. Infelizmente, a maioria dos cursos universitários surgidos por causa da demanda oferece ensino de péssima qualidade. Os alunos que se formam nessas faculdades mambembes nem sequer conseguem ser aprovados no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), exigido para quem vai exercer a profissão. Para se ter ideia de como a situação é calamitosa, só um quarto dos candidatos é aprovado a cada prova.
Num mercado ultracompetitivo, leva vantagem quem faz estágio em escritórios renomados. Eles costumam dar prioridade a quem cursa ou cursou universidade pública, onde o ensino é melhor, e tem fluência em inglês. Aos poucos, impõe-se a cobrança por mais uma língua, como o espanhol. Quem passa por todos esses filtros e consegue uma vaga é instado a fazer algum tipo de especialização extracurricular. "É bom chegar ao mercado de trabalho com um conhecimento prévio sobre uma determinada área. Se você quer trabalhar em empresa privada, precisa entender, por exemplo, de finanças", diz Ary Oswaldo Mattos Filho, fundador do escritório que leva seu sobrenome. Professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, Mattos Filho convenceu a instituição a criar um curso de direito empresarial que preparasse seus alunos para o novo mercado. Nele, além de leis, os futuros bacharéis aprendem contabilidade, administração e economia. Resultado: para a primeira turma, que se formará neste ano, sobram propostas de estágio em bons escritórios e departamentos jurídicos de grandes empresas. Um ótimo começo para os doutores.
Sobe e desce do direito
É uma área crucial para a sobrevivência das empresas, oprimidas por uma alta carga de impostos e seu emaranhados legal
Direito da Concorrência
Ramo novo no Brasil, cresceu nos últimos vinte anos devido aos aumentos das fusões e aquisições no setor privado
Direito do trabalho
Os profissionais dessa área tem uma enorme carga de trabalho, mas são mal remunerados
Direito Penal
Atrai cada vez menos estudantes, que consideram que esse tipo de especialização é pouco demandado pelas empresas
POR DETRO DOS NÚMEROS DO DIREITO
O número de candidato que prestam vestibular para direito é quase igual à quantidade de advogados em atividades no país
586 000 advogados estão em atividades no Brasil
550 000 pessoas prestaram vestibular para direito no ano passado
83 000 estudantes concluem o curso anualmente
13% dos formados, apenas, passam no exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Os demais não podem advogar
275% foi o aumento, na última década, do número de cursos de direito no país. Eles saltaram de 280 para 1051
37% dos advogados trabalham no estado de São Paulo, que tem um profissional para cada 183 habitantes
0,04% dos advogados trabalha em Roraima, que tem um profissional para cada 1683 habitantes
24 são as possíveis carreiras do direito, que vão de delegado de polícia a advogado de recurso hídricos
Fontes: OAB e ministérios da Educação e do Trabalho
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