No filme Conspiração do diretor George P. Cosmatos, 1997, um dos personagens dispara a sangue quente "A imprensa escreve para vender, não para informar.”. De fato, a mídia se preocupa com o ibope e não com a verdade. As notícias relacionadas com a violência divulgadas pela grande mídia exprimem na maioria das vezes julgamentos de valores tendenciosos. Esses noticiários apresentam a criminalidade por meio de estereótipos, ferem irresponsavelmente com seu alarde sensacionalista a presunção de inocência, um direito de todos garantido por Lei, e lançam o discurso de endurecimento das penas. Com isso ampliam o alvoroço social gerado pelo impacto da violência e disseminam o medo, o preconceito, a intolerância. Os meios de comunicação em massa são seletivos, evitam noticiar nomes de pessoas ou empresas que possam lhes trazer complicações ou prejuízos e não é incomum tentarem influenciar no resultado dos julgamentos jurídicos. A mídia é burguesa, capitalista, americanizada, ideológica. Atualmente ela manipula corpos, corações e mentes. Tornou-se a voz da opinião pública dita pela boca da elite econômica, assumiu definitivamente o rótulo de Quarto Poder e abdicou do que poderia ser um "Contrapoder". Satírico, Luiz Fernando Veríssimo escreveu uma vez “Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data.”.
A impunidade, tecnicamente, consiste no não-cumprimento de uma sentença por alguém formalmente condenado em virtude de um delito. No entanto ela é entendida pelo corpo social como sendo a não aplicação de penas para os infratores, lentidão excessiva no julgamento ou condenação considerada insuficiente pelo povo. No Brasil, como é entendida e sentida a impunidade acontece na tortura policial, no enriquecimento ilícito, na imunidade parlamentar, nos grupos de extermínio, nos crimes prescritos, no trabalho escravo, no tráfico de drogas, no infanticídio, na bala perdida, no “mensalão” e se olharmos para nossa história a veremos sorrindo triunfalmente do alto do tirânico regime militar.
Por outro lado a mídia é importante quando se engaja em denunciar a corrupção política, dissuadir o consumo de drogas, na luta contra a Aids e o abuso sexual infantil, no combate a impunidade, no alerta dos crimes digitais e dos efeitos da crise, etc. Distorcidas ou não as informações que a mídia nos fornece compõem nosso quadro de conhecimento diariamente renovado do mundo e cabe a nós selecionarmos esses dados e através de uma reflexão criteriosa formamos uma opinião sensata dos acontecimentos.
Mas como tornar a mídia ética e reduzir a impunidade em nosso país?
Para o jornalista Altamiro Borges somente através da democratização dos meios de informação e cultura é possível se libertar da manipulação dos donos da mídia e do poder. Cristovam Buarque no livro "Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia" afirma categoricamente: "Mais difícil é quebrar a dificuldade de mostrar a realidade ao povo: tirando-o da alucinação em que vive, cercado por informações que não refletem a realidade. E, para consolidar a democracia, a maior dificuldade está em aproximar eleitores e eleitos, separados pela brecha entre a realidade e as informações produzidas pela mídia.”
Já a impunidade na terra do futebol e do samba por mais que seja absurda, refletindo aspectos do terceiro mundo e expondo coágulos do regime militar, é exagerada pelos órgãos de comunicação, ocupando um espaço precioso que poderia servir de Ágora para o debate das questões políticas, das desigualdades sociais e da formação efetiva da cidadania em tempos de globalização e degradação ambiental. Com efeito, hoje em dia podemos ver pela mídia o esfacelamento de quadrilhas de colarinho branco pela polícia federal, a prisão de traficantes poderosos, o bloqueio de bens de criminosos no exterior, a caça aos repulsivos pedófilos e cassações inauditas de mandatos políticos. No entanto é preciso continuar cobrando das autoridades um trabalho incansável no ato de vigiar e punir, pautados na justiça.
É preciso, acima de tudo, exercitarmos nossa capacidade pessoal de pensar, tomar decisão e agir responsavelmente como seres humanos e cidadãos aspirando ajudar a construir uma sociedade consciente, justa e pacífica, para todos.
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“Livrar a mente da presunção” Johnson