domingo, 22 de novembro de 2009

ESCRITO NA PEDRA

“Nós nascemos para escrever, Thiago.”

Enias Oliveira



O POETA DO VALE DO AÇO


A Enías Oliveira, meu amigo imortal


“Há se não fosse essa coruja cantando,

eu jamais perceberia a existência da alma.”

Enías Oliveira


De noite passei pela nossa antiga rua, olhei para a sua casa.

Observei à mineira você sentado na varanda, escrevendo.

Talvez tenha estranhado porque sua voz rouca me fulminou:

“Então, Thiago, tudo bem ou por acaso você viu um fantasma?”


Campeonato de arremessos livres de basquete nos fundos da casa.

Conversas noturnas na varanda: musas, futebol, política e irrisões.

Sua cadeira de rodas, meu pai alcoólatra, os amigos, o calor.

Troca de apelidos traumáticos e nossa solidão compartilhada.


Eremita urbano, aspirava publicar seus originais intimistas:

“Caleidoscópio de Emoções”, “Abril-Agosto”, sua vida em poesia.

Mas seus rins o mergulharam num réquiem prematuro e misterioso.

E sua paixão pelas palavras influiu em mim, poeta maldito.


Quem se sentava ao seu pé para ouvi-lo ler seus poemas e contos?

Assinamos erros dolorosos e atiraram pelas nossas costas.

A varanda metamorfoseou-se numa revolucionária nuvem insular.

Dentro de Deus você volta a andar e espera o amigo que ficou.


Fixa na parede de meu quarto-do-caos, sua ex-camisa do Cruzeiro.

Sua irmã me disse que mandou me dá-la, em sonho. Obrigado.

Amizade: companhia poderosa contra a inaceitação do mundo.

Os dois. Por que não matamos a saudade do sarau, Ninias?


THIAGO CASTILHO

Um comentário:

  1. Thiago,
    delicioso o mergulho q vc me proporcionou à procura de almas q se comungam, silenciosamente, nos versos q me gritaram.(paradoxal?)
    Posso dizer q coadunei com essa comunhão e, de coração, fiz parte desses momentos q agora se eternizam em seus versos.
    Agora, um vazio invade minha alma e penso em seus versos...
    Bjs e obrigada pelo momento!

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“Livrar a mente da presunção” Johnson