sábado, 28 de novembro de 2009

O SENHOR DO UNIVERSO


Saudações científicas, curiosa observadora, como se sente hoje?


Então, querida, essa semana postarei para nós (e somente para nós dois) um interessantíssimo questionário em que meu amigo Marcelo Gleiser, o cientista brasileiro mais renomado da atualidade, responde às principais questões que nos desafiam desde que descemos das árvores. O Esconderijo orgulhosamente apresenta tudo que você tinha vontade de saber sobre o universo, mas tinha medo de ir para o inferno se perguntasse. Mas cuidado "Não queira saber tudo." Afinal, qual a graça disso?



1. Como tudo começou?

Ainda não sabemos. Mas estamos cada vez mais próximos de uma resposta, ao menos no que tange à Ciência. Desde meados do século XX, quando o modelo do big bang foi proposto, temos chegado cada vez mais perto do momento inicial. Hoje, podemos dizer que compreendemos bem a História do Universo desde o primeiro segundo de existência. Nada mal. O problema começa com a noção de tempo. Ela deixa de fazer sentido quando nos aproximamos do "começo". Segundo a Física moderna, o tempo que flui como um rio é um conceito que não se aplica ao início de tudo. Tempo e espaço passam a flutuar aleatoriamente. O início de tudo seria o início do tempo que nos é familiar. E esse tempo, como havia dito Santo Agostinho, "surge com a Criação".



2. O que é big bang?

Big bang é o nome dado ao evento que marca a origem do Universo. Mais corretamente, é o nome dado ao processo que marca o início do tempo, a data de aniversário do Universo. O modelo do big bang, usado hoje em cosmologia, descreve de modo preciso várias das propriedades do Universo em que vivemos.

3. Qual é a origem da vida?

Essa é outra pergunta a que ainda não podemos responder. Não sabemos como átomos inanimados organizam-se de tal forma que, após atingir certo nível de complexidade, passam a ser "vivos". Essa passagem do inanimado ao animado é uma das questões mais fascinantes da Ciência moderna. Entretanto, sabemos que a vida existia na Terra há pelo menos 3,5 bilhões de anos. Se ela surgiu aqui ou se veio de outro lugar do espaço é assunto de discussão. A maioria dos cientistas acha que ela surgiu aqui mesmo. Experiências mostram que aminoácidos, componentes das proteínas necessárias para a vida, podem ser formados em condições semelhantes às que existiam aqui no passado. É um primeiro passo em direção à resposta. Em ciência, o não-saber é fundamental; só assim geramos conhecimento.

4. O Universo está mesmo em expansão?

Está. Isso significa que as galáxias estão se afastando umas das outras, sua velocidade de afastamento está aumentando com a distância. Como passas num bolo, que se afastam à medida que o bolo cresce no forno.


5. Somos mesmo feitos de poeira das estrelas?

Somos! A matéria que compõe nosso corpo, os átomos de carbono, oxigênio, cálcio, ferro etc., foi toda forjada no interior de estrelas no final de suas vidas. Estrelas geram energia fundindo principalmente hidrogênio em hélio. Quando o hidrogênio no seu interior acaba, elas entram em colapso, forjando elementos químicos cada vez mais pesados. Eventualmente, elas explodem e toda essa matéria é espalhada pelo espaço interestelar. Foi o que ocorreu com a nuvem de hidrogênio que acabou virando nosso sistema solar: outra estrela, nossa vizinha, salpicou-a de átomos ao morrer, criando então a possibilidade de vida aqui. Quando o Sol explodir, será ele que espalhará sua matéria pelo cosmo.

6. O que é buraco negro?

Buraco negro é a fase final de estrelas com muito mais massa que o Sol (oito vezes ou mais): a estrela entra em colapso e não pára, sua gravidade vai ficando cada vez mais intensa, feito um escorregador que fica cada vez mais inclinado até que fique impossível escalá-lo. É o que ocorre com a própria luz num buraco negro: nem ela consegue escapar da força de sua gravidade. Daí o nome, uma região do cosmo de onde nem a luz escapa.

7. Existe vida extraterrestre?

Não sabemos. Mas tudo indica que a vida não deve ser apenas algo que ocorre na Terra. Isso porque a química da Terra não é tão única, outros planetas espalhados pelo cosmo devem ter algo de parecido. Fora isso, a vida, mesmo aqui, é extremamente criativa e persistente, existindo em condições muito exóticas: altas temperaturas, no gelo, em áreas contaminadas por radioatividade... A questão da existência de vida extraterrestre "inteligente" já é bem mais complicada. Aqui, podemos apenas especular. Em nosso sistema solar, ao menos, sabemos que ela não existe. Dada a ausência de "visitantes" -- não existem provas concretas aceitas por cientistas sérios de que seres extraterrestres tenham vindo até aqui --, devemos aceitar que, se vida inteligente existir fora da Terra, deve ser muito rara. Mas espero que não sejamos a única espécie capaz de produzir tecnologia no Universo. Isso nos tornaria importantes demais. E seria muito triste.


8. O que é Física Quântica?

A física quântica estuda o comportamento dos átomos e das partículas subatômicas. Muito da tecnologia digital que usamos hoje é produto de aplicações tecnológicas da Física Quântica, desenvolvida nas três primeiras décadas do século XX.

9. Como os planetas se mantêm em órbita?

Newton mostrou em 1686 que as órbitas dos planetas em torno do Sol são como uma "queda livre", como quando um elevador despenca e caímos devido à atração gravitacional da Terra. A diferença é a velocidade horizontal: imagine um canhão sobre uma montanha. Quanto mais forte o disparo, mais longe viaja a bala. Até que, para uma certa intensidade do disparo, a bala continua caindo, mas, devido à curvatura da Terra, não encontra o chão. "Entrar em órbita" é estar sempre caindo com o movimento adicional empurrando na horizontal.

10. O que é a teoria da relatividade?

Em sua teoria da relatividade especial de 1905, Einstein mostrou que nossas noções de espaço e tempo como entidades rígidas e imutáveis são ilusões causadas pelo fato de que nossos movimentos são muito lentos, se comparados à velocidade da luz. Se nos movêssemos a velocidades comparáveis (mas menores), veríamos as coisas encolhendo e o tempo passaria mais devagar para elas. Entre as conseqüências, Einstein demonstra a equivalência entre energia e matéria, algo que só é possível a altíssimas energias. Na relatividade geral, de 1916, Einstein redefine a gravidade como sendo a curvatura do espaço. A expansão do Universo e buracos negros são descritos por essa teoria.


11. É possível viajar no tempo?

Segundo a teoria da relatividade, se pudéssemos construir um veículo capaz de viajar a velocidades próximas à da luz, poderíamos viajar para o futuro. Mas jamais para o passado...

12. É preciso conhecer profundamente Matemática para entender os grandes conceitos da Ciência?

Do mesmo modo que não precisamos ler uma partitura para apreciarmos música clássica ou tocar guitarra para apreciarmos rock, não precisamos de Matemática para apreciarmos as idéias da Ciência. Mas uma compreensão mais profunda da Física moderna precisa, sem dúvida, de Matemática. Mas nem todo mundo quer ou deve ser compositor ou músico. Ciência faz parte da cultura e precisa de tradutores. Esse é o papel dos divulgadores de Ciência: traduzir a Ciência para que o resto da sociedade possa compartilhar suas descobertas e opinar sobre seu uso.

13. Existe harmonia no mundo? E qual é o papel da imperfeição?

E como! Basta ver a coreografia dos ciclos naturais, como a vida coexiste e improvisa com o meio ambiente e como padrões simétricos tendem a se repetir, a bifurcação dos troncos das árvores e dos leitos dos rios, as espirais das galáxias e das conchas, a simetria das asas de uma borboleta e dos flocos e neve. Porém, se só houvesse harmonia e simetria, se só houvesse equilíbrio, jamais haveria transformação... Portanto, tudo o que ocorre e que se transforma no mundo o faz devido a imperfeições, ao desequilíbrio. É a tensão entre harmonia e imperfeição que gera a criatividade do mundo natural, das formas mais simples àquelas mais complexas.


14. É possível a coexistência entre Ciência e Religião?

Sem dúvida. Basta que cada uma aceite suas limitações e áreas de atuação. O conflito existe quando a Ciência tenta agir como Religião -- o que não pode nem deve fazer -- ou quando a Religião tenta agir como Ciência -- o que não pode fazer também. As duas servem a propósitos diferentes, no máximo complementares. Nunca mutuamente excludentes.

15. Se houve um começo, haverá um fim?

A questão é que fim é esse? Da Terra? Certamente, quando o Sol explodir em 5 bilhões de anos, levará nosso planeta junto. Da vida? Difícil dizer, depende do quão criativos seremos à medida que o Universo expande e resfria. Do Universo? Talvez. Mas, pelo que sabemos hoje, continuará sua expansão indefinidamente. O fim seria devido à morte das estrelas e das fontes de energia: o cosmo termina no escuro.

Fonte: revista Época, O Senhor do Universo.



EDO observa: Um dia desses tivemos durante o Apagão um prelúdio do “fim escuro” ao qual se refere o Marcelo. Deve ser o célebre “ensaio mental” que o Einstein utilizava para visualizar eventos futuros e que nossas autoridades competentes (?) resolveram experimentar. Quando telefonei após o acontecimento para o Presidente Lula cobrando explicações da razão pela qual eu fiquei emparedado horas nas trevas, ele respondeu esquivamente “Não sei de nada.” Loucura! Ora, assim a amizade se desgasta, paizinho.

Saúde, observadora. E luz enquanto for possível.

Um comentário:

  1. ISSO NÃO PASSA DE UMA BAITA BESTERA. VAI ESTUDAR MAIS, COMO NÓS PODERIAMOS SURGIR DAS ESTRELAS. COMO VOCÊ SABE QUE O SOL VAI EXPLODIR DAQUI 5 BILHÕES DE ANOS. HÁ E QUE EU SAIBA O PROJETO DAS MOLECULAS ACELERADAS, AQUELA PARA CRIAR UM NOVO BIG BANG, NÃO DEU CERTO E A SEGUNDA NÃO VAI DAR EM NADA.

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