LEVIATÃ, O PRÍNCIPE

É um Castilho! Depois de dar o ultimato ao invasor para sair de nossa propriedade e ser contrariado, o velho Castilho entrou em casa e voltou correndo como o Mel Gibson em Coração Valente com a faca na mão. Foi tenso. Tive que contê-lo e convencê-lo dos fatos: apesar dos pesares o cara estava bêbado, já fora dos limites de nossa residência (quando viu meu pai voltar com a faca ele saiu) e havia testemunhas do outro lado da rua que poderiam comprovar o excesso de legítima defesa. Além de ser antijurídico seria antiético e anticristão distribuir facadas aquela altura do campeonato. Minha mãe, claro, nesse ponto chorava. Para que servem as mães?

As crianças retornavam da escola. O bêbado ziguezagueava na bicicleta. Caiu. As crianças, dois meninos excomungados e duas meninas-macho começaram a cantar aquela formidável musica popular brasileira “Beber, cair e levantar...” Quinta, 26 de agosto, eu estava lanchando placidamente antes de ir para a faculdade quando tudo aconteceu, 17h50min. Ouço gritos e minha mãe pedindo calma. Abro a porta da sala que dá para a garagem, abruptamente. Digo num gesto mecânico “O que está acontecendo aqui?” Merda!

Abaixo, crianças judias marchando para a morte num campo de concentração nazista

Eis o caso: minha altruísta mãe estava no portão atualizando as informações essências do bairro com uma vizinha quando as levianas crianças dobraram a esquina correndo do ébrio que queria trucidá-las. Mamãe deixou as crianças entrarem em casa para se refugiarem. O cara entrou atrás. Ai então, é claro, ela fez o que qualquer mãe do mundo faria em seu lugar, chamou o pai para resolver o problema e se eu não seguro o velho ele teria incorrido no que no direito alcunha-se “legítima defesa excessiva”, o que pode gerar um grande desconforto legal. É claro, haviam atenuantes, legítima defesa de terceiros (no caso crianças), defesa de propriedade, violenta emoção, motivo justo, entre outras alegações que um bom advogado poderia invocar. Mesmo assim meu pai exagerou e se não intervenho iria esfaquear até a morte aquele infeliz embriagado. Não se preocupe, irrecusável leitora, não houve facada, graças a Deus. Ou melhor, graças ao Sagrado Thiago, seu blogueiro favorito.

Essa eu elaborei ontem: O que um advogado diz diante de uma linda mulher? Resposta: Que bela constituição!(Eu sei, é chato ser um gênio, mas eu aguento.)

“Fazer o que se o trem (sexo) é bom?” Jack Ulhôa da minha topique ou melhor dizendo “A topique do Nono.” Ou melhor ainda como a batizei “A topique do amor”, a cada semestre uma nova aluna dela engravida.

Nosso histórico não é bom. Desde Caim, passando por todas as guerras, a inquisição católica, o holocausto, as ditaduras militares, a violência física, sexual, verbal ou psicológica, social, política (terrorismo), cultural, doméstica, infantil, conta a mulher, auto-violência (suicídio)...Enfim, somos sadomasoquistas. Segunda a ciência a violência é determinada pela complexa combinação entre fatores externos e características inatas do ser humano. O homem entre 15 e 30 anos é o bicho mais violento que existe, mata 40 vezes mais do que a mulher. Podemos infiltrar Darwin, o segundo maior gênio da humanidade, no meio disso tudo e dizer que é “Uma questão de evolução” os homens tinham que caçar efetivamente, vencer a competição sexual, sobreviver a guerras tribais e etc. Contudo segundo Steven Pinker (especialista contemporâneo no assunto) essa lógica darwinista e a armadilha hobesiana (violência gera violência) não passam de ilusões: “A violência é o resultado quase inevitável da dinâmica dos organismos sociais racionais movidos pelo auto-interesse.” Ou seja, tudo são negócios, meu amor. A violência vicia numa volúpia da violência. Morou?

“Zé Pequeno é o caralho, meu nome agora é Dadinho, porra.” Cidade de Deus, o melhor filme de humor do mundo, made in brazil

"Pra que time você torce em, é pro galo ou não?” Uma turma do mal com a qual tive o desprazer de cruzar na quinta série do ensino médio, eu levava porrada mas dizia intrépido “Nunca. Eu prefiro a morte. Eu torço pro Cruzeiro, pro Cruzeiro!” Meu pai teve que ir na escola ver porque eu tava voltando todo arrebentado pra casa, meu colegas covardes, eu me lembro como se fosse hoje respondiam “Pro Galo, claro.” Mas eram todos cruzeirenses indignos.

A violência corroí nosso melhor e nos deixa “noturnos, rotos, desossados”, exibindo uma expressão drummondiana. Winston Churchill, o maior estadista inglês do século passado escreveu que a paz entre os homens não é um estado natural nem um direito “é um pudim de grandes esforços bélicos.”. Com efeito, penso que não estamos emocionalmente preparados para a violência. O homem de bem, mediano, desarmado, não sabe lidar com a situação em si. Ou toma uma atitude passiva (talvez covarde) ou perde-se num comportamento descontrolado (como o do meu pai). Manter-se frio e moderado é quase impossível. O que você faria naquela situação, leitor?

"Onde está o baiano?" Tropa de Elite

Digam o que disserem, em matéria de violência Jason é insuperável, per omnia saecula (Por todos os séculos)

Há tempos tentei escrever um conto sombrio chamado Derradeiro Luar, sobre um filósofo mineiro que visita o Rio de Janeiro, pois seu sonho era conhecer o Cristo Redentor e ver o mar que nunca vira. Ao voltar a noite para o hotel onde se hospedara é alvejado no pescoço por uma bala perdida. Cai, agoniza e “pensa em tudo” durante os poucos instantes que lhe resta de vida. Amaldiçoa o Rio de Janeiro, se arrepende de não ter aceitado o convite da prostituta infantil, mas o pior era ser filósofo, ateu, ter a plena consciência de que a situação era irreversível e se está sozinho numa rua deserta, sagrando até a morte. É o último luar, ele pensa e sorri amargamente. Cuide-se, leitora.

Essa fotografia em particular sempre me fascinou.

“Olhas para a guerra, o murro, a facada,

Como uma simples quebra da monotonia universal.” Drummond para Machado

Dados estatísticos da UNESCO:

a cada 13 minutos um brasileiro é assassinado;

a cada 7 horas uma pessoa é vítima de acidente com arma de fogo no Brasil;

um cidadão armado tem 57% mais chance de ser assassinado do que os que andam desarmados;

as armas de fogo provocam um custo ao SUS de mais de 200 milhões de reais;

no Brasil, por ano, morrem cerca de 25 mil pessoas vítimas do trânsito e 45 mil morrem de armas de fogo;

em São Paulo, quase 60% dos homicídios são cometidos por pessoas sem histórico criminal e por motivos fúteis.

“O segredo do agitador consiste em parecer tão idiota quanto seus ouvintes, de modo que eles acreditem ser tão inteligentes quanto ele.” Karl Kraus, aforismos violentos

Lembrem-se, observadores: Paz e amor!

Um beijo do penetrante Observador.

Por: Thiago Castilho