DO SUICÍDIO

 

EU SEI DA SUA ESCURIDÃO

“Eu me odeio e quero morrer.” Kurt Kobain

Saudações, querida leitora. Você já pensou em morrer? Semana passada ou retrasada, deslembro, estudamos o instituto jurídico do induzimento, instigação ou auxílio a suicídio. Induzir como bem explicou nosso veemente professor de direito penal Capitão Neto é introduzir na mente do sujeito a idéia de suicidar-se. Já instigar é alimentar essa idéia pré-existente e auxílio ao suicídio poderia ser traduzido como uma “ajudinha” para o caboclo se auto-exterminar como, por exemplo, emprestar-lhe o revolver para ele estilhaçar os miolos. Pena- reclusão de 2 a 8 anos se o suicídio se consuma ou de 1 a 3 anos quando a tentativa de suicídio resulta em lesão corporal de natureza grave. A pena é duplicada se o motivo do crime for egoístico ou se a vítima é menor ou tem atenuada sua capacidade de resistência. Não há punição para o suicida exceto a exclusão da eternidade divina. Foi o que me disse certa vez um amigo pastor tentando me intimidar.

“Ela se jogou da janela do quinto andar

Nada é fácil de entender.

Dorme agora...

É só o vento lá fora...” Legião Urbana

O casal suicida Cibele e Scarpa

Por uma infeliz coincidência recentemente a atriz brasileira Cibele Dorsa se atirou do 7° andar do prédio onde morava no Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. Ela deixou uma mensagem na internet explicando que não suportava mais a dor da perda de seu namorado, o apresentador de TV Gilberto Scarpa que também se suicidou em janeiro da mesma forma. Depois do carnaval contou-me o Rui o caso do seu amigo de Ipanema que também se suicidou por amor, coitado. Um ano tinha se passado desde o término do namoro. Ele não superara. O mal do amor. Como ainda tinha a chave da casa da ex e após vê-la dançando “um samba bravo” na festa da carne não agüentou mais e se enforcou no quarto da pobre por vingança. É ou não é um caso de Nelson Rodrigues?


“O suicídio faz com que os amigos e familiares se sintam seus assassinos.” Van Gogh

Sylvia Plath, poeta americana, cometeu suicídio inspirando gás na cozinha de sua residência aos 30 anos

Imagino que seja glorioso, não dizer, mas ouvir os outros dizerem “Uma mulher já se matou por causa dele.” “_Como ele se chama? _Thiago Castilho.” Oh, mais uma de minhas monstruosidades éticas? Então, por que não vai embora? Vá, interrompa a leitura desse texto agora e nunca mais volte ao Esconderijo. Continuas, safada!? Então, minha casa, minhas leis. Voltando a minha exposição, já se ajoelharam perante mim, mas com erotismo, não com dor. Já beberam meu sangue, mas nunca imploraram “Me ama, Thiago! Ou...”. Oh, o “ou” fariam meus olhos acenderem de curiosidade e pode ser que replicasse “Ou o quê?”. A paixão inspira a pena do poeta. Mas não existe pena. Existem desejos inconscientes. Sombrios. Por que meus desafetos não se suicidam?

“O Estado é onde todos bebem veneno, os bons e os maus; onde todos se perdem a si mesmo, os bons e os maus; onde o lento suicídio de todos se chama “a vida”.” Nietzsche

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde mais de um milhão de pessoas cometem suicídio por ano, sendo a décima causa de morte no mundo e nos últimos 50 anos seus números aumentaram em 60%. A Ásia detém 40% dos suicidas.  Contudo as tentativas de suicídio frustradas chegam a 20 milhões. No Brasil cerca de 25 pessoas se suicidam diariamente. Ou seja, é uma epidemia muito maior do que a violência letal contra mulheres (15 são assassinadas por dia) e um número infinitamente maior do que as vítimas fatais da dengue. No entanto nunca vi uma campanha governamental na televisão dizendo “Suicídio mata.” Ou “Precisando conversar? Ligue para nós...” Efetivamente, o suicídio é um problema de saúde pública. Eu não entendo porque as autoridades estão cagando para ele e para a bomba atômica que lançam na vida de seus familiares e amigos. Suicidas votam, vampiros. Se estiverem vivos, claro.

“_Morres comigo, pequena?

_Morro!” Nelson Rodrigues

“Os textos hindus dizem que quem comete suicídio passará a fazer parte do espírito do mundo, vagando pela Terra até o dia em que deveria ter falecido, caso não houvesse cometido suicídio.”

As causas do suicídio são plurais como os suicidas. A maioria padece de alguma perturbação psíquica aguda como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, etc. O segundo fator preponderante incide sobre o abuso de drogas e álcool. Mas há também causas socioeconômicas e políticas em jogo como desemprego, dificuldades financeiras e eventos traumáticos. Por incrível que pareça, os ricos se matam mais do que os pobres. No Brasil os maiores índices são do Rio Grande do Sul. Porto Alegre é a capital com maior taxa de suicídios. O índice de suicídios da classe médica é dez vezes maior do que a da classe dos garis. Mas ninguém ganha dos infantis adolescentes. Suicidas sentimentais. Qualquer crise amorosa é motivo para acabar com tudo. “Se você não me ama não vale a pena viver. Adeus, Gabriela. A culpa é sua.” Há também o suicídio judicial quando o criminoso se mata para não ser processado. Outras categorias de suicídio são: homens-bomba, eutanásia e kamikazes. Uma simples facada na jugular...


Para Émile Durkheim existem três formas de suicídio: egoísta, altruísta e anômico. Além do fatalista. Todos frutos de uma "Integração social" desgastada.

Um ponto significativo a ser analisado, é que os casos de suicídios foram extremamente raros nos campos de concentração, o que reforça a evidencia de que as condições exteriores (mesmo as mais brutais) não explicam o fenômeno. Além disso, o suicídio é mais comum em nações ricas e ocorre com mais freqüência nas classes médias.” Do site Espectrum


Na minha infância tinha uma tal Regina, menina encapetada, cuja mãe se suicidou. Na escola ela sofria bullying. Os meninos e as algumas meninas diziam que ela tinha matado a mãe. Meus olhos lubrificavam diante da agressão coletiva, mas eu nunca fiz nada para ajudá-la. Ela era feia. Eu me lembro que ela abaixava a cabeça e ficava andado para frente enquanto os meninos gritavam “A Regina é assassina. Bis...” até que ela encontrava uma ou varias pedras no pátio e contra-atacava com fúria. “Cuidado amigos ela já matou a própria mãe e agora ela quer matar a gente” Debochavam sob pedradas. Há 5 anos soube que ela tinha sido condenada por trafico de drogas. Lamento.


“Hoje é um bom dia para morrer.” Do filme Linha Mortal, sobre estudantes de medicina que se matavam para descobrir o que tinha depois da morte e voltavam com eletro-choque.

“Antigamente, em Atenas, uma pessoa que havia cometido suicídio (sem a aprovação do Estado) era negada às honras de funeral normal; a pessoa era enterrada sozinha, na periferia da cidade, sem lápide ou inscrição. Um decreto-lei criminal emitido por Luís XIV de França em 1670 era muito mais grave em sua punição: o corpo do morto era atirado pelas ruas, virado para baixo, depois pendurado ou jogado em uma pilha de lixo, enquanto que todos os seus bens eram confiscados. Em contrapartida, os soldados romanos da Roma antiga e do Japão Feudal que haviam sido derrotados nas guerras eram obrigados a cometerem suicídio.”

Uma vez ou duas quando estava com depressão cogitei seriamente a minha própria extinção. Não quero falar disso agora nem de graça. Um dia, se Deus deixar, escreverei minha autobiografia que talvez deprima ou divirta um ou dois idiotas. Hoje não. Só digo que desisti do sinistro projeto após concluir que a vida me matará por mim. Não posso imaginar o mundo sem Thiago.

Eu tive uma professora suicida. Estudávamos no segundo andar do Giovanini. Eu sentava do lado da janela. Só me lembro de sentir o aguaceiro e da minha colega Tati gritando “Meu cabelo, sua piranha!” Era uma professora deprimida que um dia sem motivo justo saiu pelo corredor com um vidro d’água e jogou a esmo em seus alunos. Depois saiu correndo. Foi suspensa da escola e durante esse ínterim se suicidou. Triste.

Eu conheço pessoas inteligentes, mas ninguém é igual a esse cara. Reparem no “sorriso estranho”

                                                        

“Como já passou pela cabeça de todos os homens são o seu próprio suicídio, poder-se-á reconhecer, sem outras explicações, que há uma ligação direta entre este sentimento e a atração pelo nada.” Albert Camus. 

Não quero humilhar as mulheres, mas a maioria dos suicidas são homens, embora as mulheres tentem o suicídio com mais freqüência. A explicação científica para o fato reside na competência masculina para a violência. Ou seja, os métodos masculinos de autodestruição são extremamente eficazes como tiro na cabeça, ao passo que as mulheres muitas vezes tentam se matar com consumo excessivo de remedinhos. Os principais métodos de suicídio são: enforcamento, envenenamento e por arma de fogo.

Uma das reflexões mais profundas sobre o suicídio é a do psiquiatra Augusto Cury. Segundo ele “Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida.”. Aceito a teoria como dizia meu terceiro avô. Embora Sêneca o julgasse um ato de heroísmo de alguém que vegetando sem dignidade ou paz de espírito prefere fulminar-se. Nesse aspecto Raymond Aron é categórico ao afirmar “Ninguém é responsável pelo seu nascimento, cada um é livre de escolher a morte, portanto de rejeitar o fardo que recebeu sem o ter pedido.”. A verdade é que entre os suicidas temos grandes artistas, filósofos, escritores, poetas, cineastas, atores, modelos, religiosos, cientistas, juristas, seis prêmios Nobel, inúmeros prêmios Pulitzer. Enfim, é complicado dizer que suicídio é coisa de gente sem futuro. Às vezes o cara tinha conquistado tudo e tudo para ele era nada, dor e tédio devastadores. (A vida vale à pena?) É um problema do ser consigo mesmo. Quem vê cara não vê alma. Mas eu vejo tudo. Não importa quem você seja. Eu sei que está representando. Ou sou o único infeliz nesse mundo violento, faminto e injusto? Então, esse fenômeno-tabu expõe nossa precária estabilidade emocional. É tenso.

Em minha pesquisa sobre o suicídio me deparei com um termo fascinante "Imortalidade quântica". Mas isso fica para outro post. Não se mate, querida. Seja original. Ame-se.

“Alguns achando bárbaro o espetáculo preferiram, os delicados, morrer.” Drummond

“E os motores saíram ligados a mil

Pra estrada da morte

O maior pega que existiu.

Só deu para ouvir foi aquela explosão

E os pedaços do opala azul de Johnny pelo chão...

E até hoje quem se lembra

Diz que não foi o caminhão,

Nem a curva fatal e nem a explosão,

Johnny era fera demais pra vacilar assim

E o que dizem é que foi tudo por causa

De um coração partido, um coração...” Legião Urbana

Por: Thiago Castilho