POSTSECRET E TARANTINO

Saudações secretas, curiosos observadores escondidos, como vão?

PostSecret ( www.postsecret.com ) é um blog ianque que publica segredos enviados por pessoas de todo o mundo. Criado pelo sociólogo americano Frank Warren, PostSecret está aberto a revelações de toda natureza. A fim de compartilhar "segredos inconfessáveis", milhares de pessoas vão aos correios e enviam suas intimidades, medos, angústias, vergonhas, em formato de cartão-postal. Existe apenas uma regra: o segredo tem de ser anônimo. Nascido em 2004, como um projeto de arte experimental (quando, preciso dizer a verdade, eu doei a idéia de fazer esse blog para Warren), PostSecret recebe aproximadamente 3 milhões de visitas mensais.

PostSecret Confissões sobre a vida, morte e Deus

Como funciona PostSecret? Extremamente singular, PostSecret permite a qualquer pessoa partilhar seus segredos por escrito em um cartão postal de forma criativa, objetiva e anônima, uma espécie de confessionário digital acrítico. Os cartões são escaneados e publicados depois de elegidos. As confissões variam desde situações embaraçosas a revelações de crimes. Em 2007 PostSecret foi eleito o melhor blog do mundo e atualmente é o terceiro mais visto, sobrepujando sites pornográficos, religiosos, lúdicos e políticos. Em suma, um fenômeno global quase como o EDO.

Atualmente PostSecret já rendeu 4 livros com compilações dos mais de 1, 500 cartões de confissões recebidos por semana. Destes, 20 são separados para serem publicados semanalmente no blog do sociólogo-artista-psicólogo Warren.

Mas qual será o segredo do sucesso de PostSecret, indaga a doce leitora, e o observador tentará responder essa interrogação amparado pela opinião cientifica de um profissional. Segundo Miguel Perosa, professor de psicologia da adolescência da PUC-SP “esconder-se no anonimato é uma nova forma de ser visto, e, em última instância, "se tornar real" no mundo da virtualidade.” Em minha opinião intuitiva de observador contumaz de nossos esconderijos, outra versão para o sucesso de PostSecret é o fato inegável da curiosidade ser uma característica fundamental do exemplar humano, de sentirmos um prazer sadomazoquista em compartilhar e consumir segredos alheios e de Postsecret permitir a quem quiser a possibilidade de se libertar de seu assombroso ou pueril segredo sem se comprometer. Soren Kierkegaard me disse uma vez "Não há nada em que paire tanta sedução e maldição como um segredo.". Assenti com meu habitual sorriso nelsonrodrigueano.

Na foto contígua Frank Warren, dono do divã coletivo PostSecret.

"Para a publicação, procuro escolher segredos novos ou expressos de uma maneira nova. Eu gosto de publicar cartões que representem todas as emoções humanas: sexo, humor, remorso, medo", contou Warren em entrevista à Folha de São Paulo.

Traduzi e selecionei para nós os segredos que julguei serem os mais interessantes. Utilizei para a triagem critérios internos que não são segredo de estado: os escolhidos me seduziram pelo choque ou pela comoção ou pela graça que me imputaram. Multifacetados, todavia todos convergem para a mesma essência puríssima: são inacreditavelmente sinceros e expõem cruamente a fragilidade decadente do ser humano em seu desabafo catártico. Schopenhauer tinha razão ao atirar a sangue-frio: “O homem pode, é certo, fazer o que quer, mas não pode querer o que quer”. Observem:

“Quando estou na cama com minha esposa, tentando adormecer, finjo que as pessoas estão nos assistindo.”

“Só me tornei enfermeira para furtar narcóticos"

“Disse para meu pai que ganhei uma bolsa na faculdade, mas eu me prostituo para pagá-la. E morro de medo dele descobri.”

“Eu provoco minha mãe bipolar quando ela é legal. Para que eu possa odiá-la novamente e as coisas voltarem ao normal.”

“Meu marido abusivo me criticava por não tomar banho freqüentemente. Depois de 45 anos finalmente nos separamos. Agora tomo banho o tempo todo.”

“Tenho 26 anos. Não sei andar de bicicleta. Tenho vergonha demais para aprender.”

“Quero agradecer a minha professora da 2° série por ter me dado seu almoço durante aquela excursão escolar, quando eu disse a ela que não tinha comida em casa.”

“Eu me sinto sexualmente atraída pelo meu pai e sei que irei para o inferno por esse motivo.”

“Roubo roupas da seção de achados e perdidos da minha escola. Eu sou um professor.”

“Há 34 anos eu me guardo para alguém especial. Eu não me arrependo nem um segundo. Sei que Deus colocará o homem certo na hora certa.”

“Eu secretamente fiz um aborto quando era casada porque não tinha certeza se meu marido era o pai. Agora eu me pergunto se você seria a filha que eu sempre quis.”

“Suponho que eu tenha sabido durante a maior parte da minha vida que um dia irei me suicidar.”

"Sou feliz e sortudo, mas nunca contei a ninguém".

Todo mundo tem um segredo inconfessável. Então, observador (a), qual é o seu segredo? Uma paixão proibida? Um arrependimento tardio? Um crime soez? Exorcize-o despachando suas confidências para 13345, Copper Ridge Road, Germantown, Maryland, EUA, 20874-3454. Entretanto “Diferentemente de um padre ou psicólogo, porém, não há retorno, lição de moral ou palavras de conforto. Só a vitrine virtual.”

Também eu tenho um segredo indizível guardado no cofre de aço da consciência, mas se te contasse teria que matá-la. Você quer mesmo saber o meu segredo?

Eu tenho uma mensagem para a Alemanha: Todos vocês vão morrer!

Nota do EDO: Assisti ontem “Bastardos Inglórios”, o caçula cinematográfico do diretor de cinema americano Tarantino ou como costumo chamá-lo quando nos encontramos nas altas nuvens de Hollywood “Taradinho”. Bastardos Inglórios é uma genuína “Vingança judia”. Só mesmo meu insano amigo Tarantino para fazer justiça aos inúmeros judeus massacrados durante a Segunda Guerra Mundial e fuzilar e queimar Adolf Hitler dentro dum cinema francês. O EDO recomenda. Na verdade, é imperdível.

Vida longa a PostSecret e Tarantino. E boa semana, taradinhos!

SEGREDO

A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.

Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.

Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.

Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.

Carlos Drummond de Andrade

THIAGO CASTILHO