O SEGREDO DOS SEUS OLHOS

O ANO DE JOAQUIM NABUCO

 

“A capacidade de pensar que acima deles não existe ninguém.” Joaquim Nabuco no seu clássico Minha Formação referindo-se a sua admiração pelo caráter dos americanos; não é nada mau assimilar essa cultura

O ano em que morri soterrado em Angra dos Reis e observei o mundo do alto de uma flor-de-lótus colossal. O ano em que o Parlamento de Portugal aprovou uma lei que permite o casamento entre homossexuais. O ano em que o Haiti desabou desmantelado por um terremoto terrível. O ano em que perdemos Zilda Arns, J. D. Salinger, José Mindlin, José Saramago, Leslie Nielsen, lembram-se? O ano em que perdemos meu tio Deco, quase um Castilho. Não. Um Castilho legítimo. O ano dum eclipse solar anular de 11 minutos. O ano do iPad, do Avatar, da “Guerra ao Terror”. O ano dos 4 trilhões de graus celsius obtidos em laboratório. Só você poderia ser mais quente na terra, querida leitora. O ano de transcender os transtornos embora alienando-me. Que ano!

 

“A manhã sempre-sempre, e dociastutos

eus caçadores a correr, e as presas

num feliz entregar-se, entre soluços.” Instante

O ano do grupo de estudo de cultura constitucional do Pitágoras e da Tropa de Elite. O ano da Maisa, da Carla, da Neném, da Andréia, da Rose, etc... Um ano cheio de sexo e solidão. O ano do paradoxo, da Origem. Um ano de merda e de luz e de amor, mas é mentirinha e você acreditou porque precisava da mentira. O ano dos Jogos Olímpicos de Inverno na monumental Vancouver. O ano dos atentados terroristas em Moscou. O ano de 1,9 mil mortos e 10 mil feridos por um sismo satânico na China. O ano do sol verde da NASA. O ano do primeiro transplante facial total no mundo. O ano da cara nova do Brasil. O ano da primeira forma de vida artificial, do porre e da fuga do João para o sul.

Planta de tabaco fluorescente, contendo genes extraídos de vagalumes

O ano do meu queridíssimo amigo Ferreira Gullar e o seu Premio Camões, o supremo galardão literário da língua portuguesa. O ano do Nobel de Literatura do escritor peruano Mario Vargas Llosa. O ano de Nelson Mandela e da copa do mundo da África do Sul. Pobre Dunga. (“Olha, eu não te odeio, mas se quiser morrer, fique a vontade”). O ano em que Eliza Samudio conseguiu a fama que tanto desejava e pagou o seu preço com a vida. O ano em que a Argentina copiou Portugal e aprovou o casamento gay. Parabéns, Argentina. O ano do genial filme argentino O Segredo dos Seus Olhos. Que final, meu amigos, tenho dúvidas se não chegou a superar o próprio final da chuva de sapos do magistral Magnólia com todos os seus efeitos especiais hollywoodianos. Justiça? Sim. Direito? Não. Mas nunca foram a mesma coisa. Algum dia serão? E se alguém lhe tirasse tudo e não fosse punido pela lei? Você teria coragem para se vingar?

“O talento justifica a crueldade.” O peso da água

O ano em que um vizinho filho de uma puta, que disse quando eu estava doente com depressão há alguns anos que eu era “um fraco”, foi hospitalizado com depressão aguda após perder o filho mais novo num acidente automobilístico e de bônus cruel teve diagnosticado um câncer paralelo fulminante. O QUE FOI? A CULPA É MINHA AGORA, CRISTO!? Quem me dera ter o poder de causar câncer em quem odeio. Palavra, não lhe desejo mal. Foi o médico que lhe deu 48 horas. Como soube disso ontem, acho que são 24. Moral: tente julgar menos seus semelhantes. A vida é foda, cheia de inesperados. A língua se vinga. E todos têm pontos fracos, inclusive exteriores.

O ano do Esconderijo, da “mão nervosa” como me chamava o Diego. O ano da Lú, das minhas queridas blogueiras, artistas de vanguarda. O ano do transumanismo, da neblina caindo em câmera lenta nos meus olhos... O ano em que passei meses isolado com 33 mineiros no fundo de uma mina no Chile. O ano de esquecer. O ano do fim da maldita Gripe A (H1N1). O ano de recomeçar. O ano de Dilma Rousseff. “Você tem medo?” O ano de ser fodido pelo Assis Chateaubriand. O ano dos vermes invejosos inautênticos. O ano do Bope, de exterminar traficantes ou pelo menos colocá-los para correr da Penha e do Alemão. O ano do casamento do Bruno e do Vitor. 2010: o ano de Joaquim Nabuco. 

 

“Você disse que seria prisão perpétua!” Do filme O Segredo dos Seus Olhos 

Por: Thiago Castilho