“Eu posso ser baixa e vulgar, mas eu não sou um monstro.” Elizabeth Taylor em Quem Tem Medo de Virginia Woolf
Chego da faculdade. Entro em casa. Penetro no meu quarto como se fosse um corpo feminino docilmente a minha disposição. Acendo o interruptor. É impressionante a velocidade com que a luz incide sobre todos os objetos. Meu Deus, meu quarto parece o Haiti depois do terremoto. O pior é que minha alma não é melhor. Preciso aceitar Jesus.
Abaixo Liz Taylor. Apenas uma palavra: soberana. Outra opinião? Deixem-me superar a mim mesmo já que vocês não poderiam fazê-lo. Se de fato fomos feitos a imagem e semelhança do Senhor (Levanto a cabeça e aponto o dedo indicador direito para o alto)... Elizabeth Taylor era os olhos de Deus.
Ontem a noite assisti “Quem tem medo de Virginia Wolf?” com a inigualável Elizabeth Taylor. Perverso, influenciador e irrespirável. Uma espécie de desgraça do inferno refinada. Após o monstruoso espetáculo conclui que é impossível ser bom e interessante ao mesmo tempo. Faça sua escolha. A minha pobre leitora assim como o marido de Elizabeth no filme e vida, o poderoso Richard Burton, também já deve ter sido traída e chorado pelos chifres. Não é? Parti seu coração, mimada leitora? Sinto muito, love, mas nosso idílio fofo já estava durando tempo demais, quase dois anos sem uma briga, logo viria o tédio e com ele o horror do desamor. Só os gays não tem conflitos com as mulheres. Um homem legítimo, clássico e voraz como eu sempre terá seus altos e baixos. Não desespiritualizemos nossa problemática relação fazendo-a eternamente harmoniosa. Decidi atacar primeiro para salvar-nos, contra-ataque se quiser. É um direito seu. Contudo lembre-se, nunca se deve atirar para matar em alguém que se ama. Só nas ficções folclóricas e científicas os mortos ressuscitam. Oh, parti seu coraçãozinho cristão de novo? Como dizia o Dr. House “Já terminou de conversar com o seu amigo imaginário?” Na sexta os esquizofrênicos passaram em frente a minha mansão com seus raios lasers primitivos. Quanto a retaliação da minha doce amiga, já imagino sua inteligência brilhante se armando em nuvem prestes a despejar sua fúria assassina. Cápsulas de verbos e insultos caem do céu como gotículas de chuva ácida. Humilhe-me.
“Você me tem fácil demais
Me disse vai, e eu não fui” Nada por mim
“Me diz até o que vestir
Com quem andar e aonde ir
Mas não me pede pra voltar” Nada por mim
Sim, o amor pode ser perigoso e mortal como a droga. Eu me lembro, não sei se devo referir a este caso. Pode ser que tenha algum leitor sem perna lendo-me e não desejo transmitir uma noção equivocada sobre mim. Mas vá lá, como dizia vovô, diga-se tudo. O azarado morava no meu bairro e era conhecido como “Perninha”. Explicação: há muitos anos ele voltava do trabalho dirigindo, por assim dizer, uma carroça cheia de esterco. Vinha tranquilo guiando o burro pela estrada quando do nada um caminhão desgovernado repleto de rolos de papel higiênico os atropelou. O burro morreu. O rapaz teve uma perna amputada (esquerda). Nunca mais foi o mesmo. (Uma perna, em não se nascendo com três por uma aberração da natureza, faz muito falta.) De trabalhador passou a drogado e de drogado a traficante. Tornou-se mau até os ossos. Andava por todos os lados acompanhado de sua multifuncional muleta e distribuindo o bagulho. Quando o cara não pagava a maconha a muleta uivava. Era horizontal, mas hostil e tinha o dom extraordinário de andar de bicicleta com apenas uma perna. Vencia uma esquina a quase 50 km por hora. O toco impotente balouçava...“Que bunda gostosa!” Perninha, penúltimas palavras. As últimas segundo o povo foram “Estou morrendo, Senhor.” Então, hospeda-o em teu seio indestrutível, Paizinho. Perdoa o tráfico de drogas, o distúrbio de personalidade, a obsessão nacional, etc...; restaura no palácio das almas a perna ausente em sua inconteste onipotência. Amém.
“Você não sabe a primeira coisa sobre o amor, porque você não entende o que é compromisso.” Closer
Nunca se meteu comigo e sempre que passava por mim me cumprimentava. Ele só dizia “Filho do Castilho!” e eu sem jeito de responder como todos “Perninha!” só dizia “Tudo bem, meu caro!” . Perninha era homem, como informei só perdeu uma perna. E um dia cometeu o erro fatal de mexer com a mulher de um vizinho nosso, sem brincadeira, Baiano! Duas mortes nas costas. Não sabia o Perninha que seria a terceira. Pobre Perninha! Ele mal tinha terminado de aplicar a cantada “Que bunda gostosa!” e já estava recebendo várias facadas no peito. Multidão. Ninguém acode. Eu tinha saído. Moro ao lado do bar do “Cher” onde a confusão começou. Mortalmente ferido Perninha atravessa a rua rastejando e senta-se ancorado no muro do vizinho. Convulso e expectorando sangue. (Quanto vale uma bunda?) Expira observando melancolicamente a minha casa. Minha mãe viu tudo e chorou. Meu pai achou bom. Seus três grandes medos eram que seus três amados filhos se tornassem por uma traição do destino ou atleticanos ou veados ou usuários de drogas. Mas o destino não teve coragem de contrariá-lo. Pobre Perninha, tudo por amor, falta de amor, a absurda bunda do baiano.
“Eu sei quem você é. Eu te amo. Eu amo tudo em você que dói.” Closer
“_Você gosta de chupá-lo?
_Igual ao seu só que mais doce.
_Obrigado pela sinceridade vagabunda. Agora desapareça e morra.” Closer
Feridos e ácidos como Richard e Liz. Eu e você. Sem gim. Eu gostaria que a noite fosse maior. Finalmente sono. Apago a luz do meu quarto. É impressionante a velocidade com que a treva se propaga sobre todos os objetos, inclusive e principalmente sobre o mais distante de todos os objetos. Sonho que sou Burton, mas em Cleópatra. Feliz Páscoa, coelhinha.“Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.” Genesis, cap. 3, versículo 18. P.S: Contra Deus não há argumento nem contra-argumento. Sujeita-vos. Como dizia Drummond “Comeríamos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras.”
“Você tem que se casar com uma mulher que te faça rir. Além de virgem como eu.” Brenda comigo num lance de exuberância
“Eu parti mil corações antes de conhecer você
Eu quebrarei mais mil (corações) antes de eu terminar
Eu quero ser seu, garota linda seu e somente seu
Eu estou aqui para te dizer, querida, que eu sou mau até os ossos
Mau até os ossos” Bed To The Bone
Mau até os ossos me lembra exclusivamente uma pessoa. Por ética, não citarei nome!
ResponderExcluirQuerida Jack,corto meu pescoço, mas não digo que é o Dr. Hélio Cimini. Espero que ele jamais saiba que você o apelidou de "Mau até os ossos" pelas costas nos corredores do Pitágoras. Apesar de ele ser um leito quase assíduo do Esconderijo, entre outras distintas personalidades. Você me conhece. Você pode confiar em mim.
ResponderExcluirAh como eu fico feliz quando a culpa de tudo que acontece cai sob meus ombros. É super carinhoso e combina com o Excelentíssimo Dr. Cimini. Mais a invenção não foi minha, não teria capacidade para tanto, concorda Dr. Castilho.
ResponderExcluirUi. Mau, muito mau.
ResponderExcluirBah, nem vou meter a colher... rsrsrs
ResponderExcluirKisses, my dear!
Pois um belo texto!
ResponderExcluirSem comentários para não polemizar.
Detesto polêmicas.
Abraços, meu amigo
Nem eu, Malu.
ResponderExcluirAbraços, querida.
esses personagens estão por aí na face dos nossos dias
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