O ano da marcha da maconha, do eclipse de cocaína da Antártida, do duplo atentado na Noruega (tiroteio em Utøya e explosão em Oslo) causando a morte de 93 e ferindo 90. O ano em que fui o único sobrevivente da queda de um avião na selva amazônica boliviana, de punir o tirano Muammar al-Gaddafi por crimes contra a humanidade a maneira popular: sangue. O ano do atlas computadorizado do cérebro humano. Que ano!
“Milhões no pó se afundam. (...) Vós vos precipitais, ó milhões? Pressentes o criador, ó mundo?” Nietzsche, O nascimento da tragédia
Mapa interativo do cérebro mostra onde os genes atuam. Esse tipo de informação pode revolucionar o estudo do cérebro e acelerar a descoberta de curas para diversas doenças (Reprodução)
O ano em que morri carbonizado num incêndio em um posto de gasolina no Quênia, vi nossa líder fazer o 1º discurso de abertura de uma mulher na assembleia geral da ONU, ouvi a decadência de Axl Rose no Rock In Rio. O ano em que fui assassinado por traficantes durante uma reportagem na favela de Antares, no Rio de Janeiro. O ano de fechar feridas fétidas e criar a estrutura essencial que eu nunca tive e cuja ausência quase aniquilou potencial e oportunidade. O ano de ver tudo, o todo e as partes. Nada.
“Esse ano foi terrível. O Lula tece câncer, o Gianecchini teve câncer... E eu não ando me sentindo muito bem. Cá para nós, Rodrigo, tenho a impressão de que ainda morrerei de câncer.” Eu, “semiembriagado”, confidenciando-me para meu amigo Rodrigo, no churrasco entre velhos amigos na casa do Alan, no último final de semana. Terminou em “purrinha” quem perdia a rodada virava um copo grande de cerveja, voltei para casa ziguezagueando, se é que voltei.
“Estamos fortemente empenhados na redução da mortalidade infantil, do câncer de mama e do câncer de colo de útero. Assim, estamos facilitando o acesso a exames preventivos, melhorando a qualidade das mamografias e ampliando tratamento para vítimas do câncer” Dilma Rousseff, durante a abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.
O ano do espanto porque na Alemanha um indivíduo ofereceu-se na internet para ser comido, literalmente, e encontrou um canibal que o fez (Isto é... Alemanha!). O ano de aprender as três perguntas básicas da filosofia: O que posso saber? O que devo fazer? O que posso esperar? O ano de descobrir que até o próprio amor materno é uma invenção cultural e que somos escravos da ideia de ser quem somos segundo nosso saber e poder.
“Esperar o inesperado”
“Só rindo.” Rubem Fonseca
“A mulher é um ser humano?” Dostoiévski, Crime e Castigo
“Adélia: Você me ama, Thiago?
(Cisne negro (Fitando-me): Diga a verdade, Thiago: nunca te amei.
Thiago: Ela disse que só queria ser feliz. Agora... o amor. Por que?
Cisne negro: Porque ela é mulher. Eu te direi o que as mulheres querem, a questão que Freud não conseguiu explicar, numa palavra: tudo.)
Adélia: Onde você está, Thiago? Meu Deus, odeio esses seus apagões estranhos.
Thiago: Eu estou aqui.
(Cisne negro: Descarrega logo sua pistola no rabo dela e vamos embora. Está frio hoje.
Thiago: Não. Ela já sofreu o suficiente com seu ex-marido. Posso não amá-la... Acho que não amo nem a mim. Mas eu não sou igual a você.
Cisne negro: Claro que não. Nós não somos iguais. Eu sou melhor.)” Do futuro Diário de um estudante de direito IV, O grupo de estudo
“É preciso questionar essa supremacia. A ciência é a porta-voz do progresso, quem disse que ela é a porta-voz da verdade?” Laymert Garcia dos Santos
O ano em que Adélia me perguntou se eu a amava e respondi... Disseram que eu tinha “o coração de uma criança” e eu ri. O ano do multiverso, da prisão psicológica, de propor a pena de morte para políticos corruptos, do amor maduro, da solidão schopenhauerana, do soberano saturno, do preço do poder, do UFC, da lição de coisas, da semana satânica, do leão dormindo no coração de uma águia, do Borges, da saudade facial, da atroz angústia, dos pinguins africanos, das focas-leopardo e dos peixes-leões.
“Você é o mestre do desespero.” Wood Allen para ele mesmo
“Às vezes é duro aceitar o sucesso ou as virtudes da pessoa de quem a gente gosta. De alguma forma, eles nos ofendem e nos inferiorizam. Em vez de celebrar as realizações da pessoa de quem estamos próximos, nos ressentimos delas. Sem admitir. Isso acontece em vários terrenos.” Ivan Martins, Você tem inveja?
O ano de ler o futuro nas vísceras do arúspice, da tanatopolítica. O ano de me apaixonar por uma mulher de costas, sua fascinante filosofia cinza e sua maneira negra, seu ódio e sua melancolia. De fita-la com carinho comunicando conhecimento no CPFL cultura, ou sorrindo qual criança magoada, ou fodendo outro intelectual que pretendia a paz sexual.
“Minha vida não tem sentido, já pensei em me matar, ela diz.
(...)
Quer que te mate?, perguntei enquanto bebíamos uísque ordinário.” Rubem Fonseca
O ano de deixar o Iraque a maneira americana: esfacelado.
O ano de saber que julgamos tudo sempre a partir de nosso próprio ponto de vista. Nossa vontade é ser amado, ser humano nesse miserável mundo maquiavélico em que o conhecimento é a mais potente das armas. A teoria nos traiu, mas a escrita nos vingou.
“Estou só e não há nada no espelho.” Jorge Luís Borges
“Por preço tão vil mas peça, como direi, aurilavrada,
não, é cruel existir em tempo assim filaucioso.
Injusto padecer exílio, pequenas cólicas cotidianas,
oferecer-vos alta mercancia estelar e sofrer vossa irrisão.” Drummond, Anuncio da Rosa
O ano do autoconhecimento, de me apaixonar por mim, embora continue me odiando. 2011 fecha os olhos. 2012 os abre me sorrindo grávido da vida. Sorrio de volta com meu velho sorriso ambíguo e observo o segredo dos seus olhos. Feliz ano novo,
Elefant.
“Os homens realmente educados são os autodidatas.” Jesse Lee Bennett
Por: Thiago Castilho
“Não! Nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal - isso tudo me é igual!” Non, Je Ne Regrette Rien
Feliz ano novo, observadores!
Perdoai minhas provocações como eu vos perdoo a conspiração. Afinal, como dizia o octogenário ex-presidente FHC “Eu gosto de contrapor ideias. Eu acho que é assim que a gente evolui.”
Boas festas!
muito legal sua retrospectiva, ficou do Car@#$%...
ResponderExcluirabraço
Obrigado, meu caro.
ResponderExcluirAbraço.
Cara, respondi lá no blog mas venho aqui e dou a mesma resposta...
ResponderExcluirThiago, já li toda obra do Rubem Fonseca pelo menos duas vezes cada romance - os contos eu nem sei mais. Eu tenho um projeto para meu segundo livro que chama: Afinal, quem é esse tal Rubem Fonseca?
São inúmeras situações que aparecem o escritor e a obra dele na vida de várias pessoas. Aqui no blog tem 4 ou 5 textos desse projeto. Se quiser posso te mandar o link deles.
Sou professor de português - acredita? E de crianças...
abraço
E 2012 chegou,
ResponderExcluircom a mesma cara borrada de 2011.
"A teoria nos traiu, mas a escrita nos vingou"! Perfect!
ResponderExcluirSem dúvidas a melhor retrospectiva que li!
Te desejo um 2012 com cada vez mais inspiração!
Love u!
O susto é grande mesmo, Tiburi.
ResponderExcluirRetrospectiva legal, com mesclas vinda de esborros de violencia, luzir de novos desafios, desnudez de vergonhas humanas, catálise pensadora...Caro Tiago...ótima a retrospectiva sintetizada.
ResponderExcluirSempre escrevendo com a violencia de dizer o que tá sentindo mesmo, hein. honestidade é tudo! Parabéns. Pretendo voltar de férias no blog. Meio sem inspiração e envolvido em outros projetos...