DAI-ME DIREITOS

“O meu sangue é negro, branco

Amarelo e vermelho...” Cazuza, Só se for a dois

PLACEBO POLÍTICO E ÉTICA JURÍDICA

Tese (representada por uma interrogação): É constitucional a adoção de politicas de cotas raciais em instituições de ensino no Brasil? Antítese (representada pela opinião de 90% dos autodeclarados brancos): Não. Os critérios deveriam ser “sociais” atingindo todos os estudantes de baixa renda independente da cor. Síntese (elaborada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)): Sim. É constitucional. Na voz do ministro Ricardo Lewandowski, relator: “Justiça social mais que simplesmente distribuir riquezas significa distinguir, reconhecer e incorporar valores. Esse modelo de pensar revela a insuficiência da utilização exclusiva dos critérios sociais ou de baixa renda para promover inclusão, mostrando a necessidade de incorporar critérios étnicos.”.

 

Quando no tempo em que fui um membro do grupo de estudo de cultura constitucional do Pitágoras, já no primeiro encontro a pauta orbitava em torno das cotas para negros, pardos e índios nas universidades brasileiras. O trabalho tinha sido apresentado pelo time do Fernando, que ficou em cima do muro quanto à questão. O debate foi dividido. Salvo engano, duas colegas foram veementemente contra as cotas e somente o prof. Gustavo Lana se posicionou a favor. A maioria esquiou indecisa ou absteve-se de manifestar sua opinião.  Um dos professores lançou a seguinte questão “Quantos negros eu conheço?”. Em verdade, salvo engano, eu não me lembro de ter tido nenhum professor negro na faculdade de direito até agora.  O que isto lhe parece, notável leitor?

Será que devemos analisar a causa dum ponto de vista estritamente pragmático, abstrato e multipolar ou o fenômeno é mais local, sutil e subjetivo no meio da miscelânea racial do Brasil? Não se trata do discurso de vitimização das vítimas. Ora, isso seria impossível, um paradoxo do paradoxo. Entendeu, Einstein? Você já sofreu preconceito na sua vida? Por exemplo, se eu lhe desse uma machadada na boca... O seu gemido não seria justo? Seu choro de dor devido sua arcada dentária destroçada, não seria justo? O seu lamento, por sua deformação facial por mim causada, não seria justo? Eu acho justo.

Eu concordo com o ministro Luiz Fuz: “A opressão racial dos anos da sociedade escravocrata brasileira deixou cicatrizes que se refletem na diferenciação dos afrodescendentes. [...] A injustiça do sistema é absolutamente intolerável.”. E não discordo do Marco Aurélio Mello: “Falta a percepção de que não se pode falar em Constituição Federal sem levar em conta acima de tudo a igualdade. Precisamos saldar essa dívida, no tocante a alcançar-se a igualdade.”  É interessante informar que para os EUA e a Europa não existe brasileiro branco. Somos meros latino-americanos. Sorry.

O governo brasileiro talvez seja o mais corrupto, deficiente e imoral do mundo. Qualquer jegue tem essa consciência trágica.  O sistema de cotas é um paliativo político para mascarar a pusilanimidade da realidade do nosso sistema educacional incapaz de garantir uma formação incolor de alto nível para os estudantes da rede pública do ensino básico e médio que poderiam assim concorrer com igualdade de saberes com os insofridos da rede particular e se livrarem do exílio acadêmico e da esmola estatal.

No Brasil, no atual estágio em que nos encontramos, ou fornecemos o peixe para o povo se alimentar ou o deixamos morrer de fome, porque não há uma terceira opção. Ensiná-los a pescar seria ensiná-los a pensar. Você acha que esta é a aspiração dos predadores?

Por: Thiago Castilho

T
“Eu tava encostado ali minha guitarra

num quadrado branco, vídeo papelão

eu era um enigma, uma interrogação

olha que coisa

mas que coisa à toa, boa, boa, boa, boa, boa

eu tava com graça...

tava por acaso ali, não era nada

bunda de mulata, muque de peão

tava em Madureira, tava na Bahia

no Beaubourg, no Bronx, no Brás

e eu, e eu, e eu, e eu

a me perguntar

eu sou neguinha?” Caetano Veloso, Eu sou neguinha?