"Quem é você?
_A Morte.
_Veio me buscar?
_Tenho andado à seu lado há muito tempo.
_Sim...eu sei.
_Está preparado?
_Meu corpo quer lutar, mas meu coração não.
Espere um pouco.
_Sempre dizem isso, mas não posso perdoar ninguém.
_Você joga xadrez!
_Como sabe?
_Pelos poemas e pinturas.
_Posso dizer que sou excelente jogador.
_Não melhor que eu.
_Por que quer jogar comigo?
_Isto é problema meu.
_Como Queira.
_Enquanto o jogo durar viverei. Se você conseguir xeque-mate, irei com você."
Do sinistro embora brilhante O Sétimo Selo
A morte disputando uma partida de xadrez com um homem ladino que sugeriu o jogo para ganhar tempo quando ela veio buscá-lo, no lúgubre filme sueco de 1956, O Sétimo Selo
Querida leitora, Fernando Pessoa disse que o amor é uma companhia, o grande poeta português não disse que era uma terapia. O amor no máximo mitiga sua solidão externa e em doses homeopáticas, não cura minha subterrânea ansiedade de que? nem minha excitante angústia portátil. Eu sei, pois já amei e meu incipiente software subjetivo singular continuou nebuloso. Contudo mesmo limitado o amor é essencial. Ame muito e seja amada, meu amor.
Eu me lembro no semestre passado quando assaltei nos corredores do Pitágoras o prof. de discurso e argumentação jurídicas Hermundes. Confessei-lhe que me sentia um “egoísta inútil”. Indignado, o prof. tratou logo de armar minha defesa contra mim dizendo que algumas pessoas ajudavam as outras numa dimensão teórica. Eu por exemplo ajudava as pessoas através do meu blog. Às vezes, ele me disse, um poema que você publica lá consola alguém que se identifica com aqueles sentimentos. Fiquei feliz, afinal eu não era um egoísta inútil, no máximo, um egocêntrico generoso como meus monstros sagrados. Obrigado, prof., pela análise freudiana de minha crise de autodescoberta. Meus inconscientes mecanismos de auto-sabotagem foram neutralizados. Finalmente eu voltei para mim. Se você soubesse por onde andei nesses últimos tempos! O introspectivo.
“Fragilidade, teu nome é mulher!” William Shakespeare
“Deus, por que criou as mulheres?” O Sétimo Selo
Por isso escrevo porque eu sei que o amor não solucionará meus graves problemas comigo mesmo e com o mundo. Escrevo porque dinheiro para mim sempre será só dinheiro, embora espere ganhar o máximo possível com o mínimo possível de apego. Sorte de quem sua fonte de renda coincide com sua de fonte de realização. Escrevo para anestesiar minhas dolorosas decepções diárias como constatar que alguém a quem se julgou amigo infelizmente é mesquinho. E escrevo porque não sei viver, claro.
Sentando a mesa entre amigos e parentes, observando o espetáculo de amor e inveja que um casamento sempre evoca pude sentir o que nosso professor de direito civil Hélio Cimini chamou de solidez do efêmero. Que não é nem tão sólido nem tão efêmero assim. Minha querida avó, quase 90 anos, não é mais a rocha da qual nos orgulhávamos há 10 anos atrás, “Já tem 80 anos e ainda prepara o almoço para os filhos que ficaram para tia ou melhor para avó.” Como diz meu tio Fernando apontando para o fogão: “Isso aí é uma arte. Não é para qualquer um.”.
"Quem tem um porquê de viver, quase sempre encontrará o como." Nietzsche
Este meu avô tinha uma amante sub-reptícia, que eu menino morria de rir ao vê-la, pois era a cópia da minha avó e nem era mais nova. Meu avô deu trabalho acamado antes de partir durantes anos. Um dia a dita-cuja apareceu na casa de minha avó e pediu para vê-lo enquanto podia "por amor de Deus." Minha avó num gesto de suprema civilidade a deixou entrar e vê-lo pela última vez. Essa partiu antes de meu avô que chorou como uma criança abandonada na rua pela própria mãe aos 4 anos de idade ao saber da dissolução de sua ex-amante.
"Gosto de viver. Algumas vezes me sinto muito, desesperadamente, loucamente miserável, atormentada pela aflição, mas mesmo diante disso tudo eu compreendo que estar viva é uma coisa grandiosa."Agatha Christie (Que coincidência Ágatha!)
Enfim, no dia do casamento do meu irmão minha adorável avó sofreu um acidente e caiu. Graças a Deus não foi nada mais grave apenas um galo gigante na cabeça, o que sempre é gravíssimo nos idosos. A maturidade é uma segunda infância e é preciso ter cuidados especiais com os nossos velhinhos. Ela sempre pergunta quando vou visitá-la “Já tomou o café, meu filho, tá fresquinho!?” Respondo: E eu sou bobo de perder o seu café, vó, esqueceu que eu sou o mais inteligente da família!?
"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada." Clarice Lispector (Então é isso que sempre procurei? Mas qual é o preço, querida Clarisse? E qual é o prêmio?)
Na segunda jantando no Komaki, um restaurante self service próximo a faculdade, nosso amigo Márcio contou seu luto canino. Marcio é pai de dois meninos, o cara mais legal que eu conheço que mora num condomínio fechado. Enfim, a casa não tem muros. Enquanto o portão automático se abria, seu cachorro Ducky correu para fora, o que sempre fazia, mas se limitava ao território familiar, respirava o ar da liberdade e sempre voltava como um bumerangue para casa. Dessa vez, sem motivo justo, atravessou a rua e foi atropelado pelo carro dum vizinho que alegou ignorância do fato. Mesmo assim conseguiu voltar para dentro de casa, todavia não conseguiu subir as escadas como sempre fazia para ficar com seu filho. Parou no segundo degrau. Ficou ali quietinho, mortalmente ferido. A mulher de Marcio tentou salvá-lo levando-o imediatamente ao veterinário, mas o Ducky não resistiu e partiu na chegada. Eu lamento, Márcio.
“Vivemos como sonhamos, sozinhos.” Joseph Conrad
"Vou morrer como vivi. Acima de minhas possibilidades." Oscar Wilde
Os poetas dizem que é preciso viver a vida sempre como se ela estivesse começando. O famoso Carpe Diem. Os filósofos aconselham vivê-la sempre como se cada dia fosse o último. Afinal um dia será. Talvez hoje. Esconjuro! Subo ao terraço e observo a noite vazia como meu coração que, aliás, andou piscando um dia desses como aquela estrela distante... Seu brilho é tão falso quanto meu sorriso. Vejo tudo, o insondável, o amor, a solidão e a morte e sinto nossa terrível e maravilhosa fragilidade humana.
"Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida." Fernando Pessoa
"Quero ter alguém com quem conversar/Alguém que depois não use o que eu disse contra mim/Nada mais vai me ferir/É que eu já me acostumei/ Com a estrada errada que eu segui/Com a minha própria lei/Tenho o que ficou e tenho sorte até demais/Como sei que tens também..." Legião Urbana, Andréia Doria
MORGUE
Por
Estão prontos, ali, como a esperar
que um gesto só, ainda que tardio,
possa reconciliar com tanto frio
os corpos e um ao outro harmonizar;
Que nome no seu bolso já vazio
há por achar? Alguém procura, enfim,
enxugar dos seus lábios o fastio:
A barba está mais dura, todavia
ficou mais limpa ao toque do vigia,
Os olhos, sob a pálpebra, invertidos,
olham só para dentro, doravante.
Post relacionando:
http://esconderijo-do-observador.blogspot.com/2010/05/o-processo-de-franz-kafka.html
"A arte é uma forma de crescimento para a liberdade, um caminho para a vida." Fayga Ostrower
Por: Thiago Castilho
"... Fernando Pessoa disse que o amor é uma companhia, o grande poeta português não disse que era uma terapia..."
ResponderExcluirhahaha..me divirto aqui..e só para não deixar de reparar "mastufalahein"
Bjk
Mi,
ResponderExcluirEu sempre quis ser diretor de cinema americano e jornalista da Veja.
Bem, isso é o máximo que eu posso fazer por mim.
Um beço.
Senti um quê de saudade do que não foi... melancolia pelo que passou... crise de identidade, de auto-estima.
ResponderExcluirEsses mergulhos profundos às vezes fazem com que custemos a emergir. Pense que os 'normais' não têm tanta sensibilidade. É o preço que se paga.
Ainda bem que te resgataram!
Estava com saudades!
Beijos!
Oi , Thiago !
ResponderExcluirObrigada pela visita e poesia.
Te sigo também ...
Gostei muito do seu blog.
E Pessoa é maravilhoso !!!
BjO.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNossa Thiago! Teus posts são encantadores. O encaixe é perfeito!! Tuas reflexões são belas e ficam mais belas com as citações :) Imagens bonitas e divertidas que prende o leitor. Ah, fora o vídeo :))) Parabéns, Poeta! Já adicionei "Esconderijo do Observador" na minha leitura diária *-*
ResponderExcluirbeijos!!!
Minhas musas,
ResponderExcluirLu,
Tenho mais saudade do que será do que o que não foi... Mas todo o resto de sua análise é incriticável. Quantos aos mergulhos, tudo bem, concertei meu escafandro. Não morro mais afogado. Quanto ao que você denominou os “normais” desde que sejam generosos e engraçados, podemos tentar tolerá-los. Se não conseguirmos, como diria o grande Nelson Rodrigues “pior para eles”.
Sempre teu, T.C.
Malu,
Obrigado, também gostei muito do seu blog.
Um beijo.
Juli,
Nossa digo eu Juliana! Muito obrigado pelo Poeta e pelo “encaixe perfeito. Mas é bondade sua! E talvez excessiva... Tem gente que lê esse blog a mais de um ano e nunca fez um comentário. (Ingratos!) Vc também tem uma “chave” do Esconderijo agora. Quanta a canção, roubei da Lu em inspiração. Ela traduz tudo do tema e da superação do tema. A frase final é renovadora “Tenho sorte até demais como sei que tens também.”
“Não há um outro dia, vamos tentar de outra maneira.” Pink Floyd
Nossa, que silêncio por aqui!
ResponderExcluirFaz falta o teu barulho! rs
Beijos!
...traigo
ResponderExcluirsangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...
desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ
TE SIGO TU BLOG
CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...
AFECTUOSAMENTE
THIAGO
ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER Y CHOCOLATE.
José
Ramón...
Gracias,
ResponderExcluirmi
hermano.
Sigue
viniendo
a
Esconderijo
do
Observador.
Ese
abrazo!
eu concordo que mulher é fragil sim, mas com relação a sentimento eu te digo, já passei por tantas e ainda estou de pé!
ResponderExcluirainda bem que nao tenho medo da morte ( nao quero que ela venha nem tão cedo!) pq nao sei nada de xadrez!
beijo!
kkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirN é fácil aprender xadrez, mas é fascinante.
A fragilidade feminina é de ferro.
Um beijo, so sad,
Volte sempre.