O MEU NOME ERA ZELÂNDIA

“A professora era querida e respeitada pelos vizinhos. (...) O corpo foi encontrado pela Polícia Militar, que arrombou a porta do quarto depois de acionada pelos vizinhos da professora. A perícia técnica da Polícia também foi acionada e constatou que Zelandia fora morta com uma facada nas costas e outra no pescoço (ela apanhou muito antes de morrer, foi muito torturada, seu queixo foi quebrado... Os filhos trancados num dos quartos por um homem encapuzado e revolver na mão, o outro tinha uma faca...” Do Blog Voz Lusa. Esse crime bárbaro teve grande repercussão no Vale do Aço e seu julgamento era um dos mais aguardados dos últimos anos

 ZELÂNDIA-QUE-MORREU-ANTES

A vida, teoricamente o bem jurídico mais relevante tutelado pelo Estado. Posteriormente vem a liberdade e fechando o triangulo jurídico supremo a propriedade. Código Penal, Dos crimes contra a vida, homicídio simples, Art. 121. Matar alguém: Pena – reclusão, de seis a vinte anos. Entretanto se o homicídio for qualificado, ou seja, mediante pagamento, por motivo torpe, fútil, a traição, para assegurar a impunidade de outro crime ou se for cometido de forma cruel a pena eleva-se de doze a trinta anos.

 

Edmilson chega acompanhado da filha e da atual mulher para seu julgamento

Jornal Vale do Aço, 15/fevereiro/2011, manchete de capa: “Ex-marido de Zelândia irá a júri popular”. O caso: em abril de 1999, a professora do ensino fundamental Zelândia Laviola Marques Oliveira, 32 anos, foi encontrada em sua residência morta em cima de uma cama, tendo sido esfaqueada nas costas e pescoço e estrangulada com uma corda de varal. Como posso imaginar o terror e a dor pela qual ela passou naquela noite fatal?

No banco dos réus do Fórum de Fabriciano o aposentado Edmilson Eduardo de Oliveira, 44 anos, foi julgado como o mandante do assassinato da ex-mulher, a professora Zelândia, no dia 23 de abril de 1999, na extinta Rua Alvino Olegário, no Bairro Alipinho, onde também mora o observador até hoje, infelizmente. O julgamento tinha sido cancelado por duas vezes, 2007 e 2008, devido a estranha falta de quórum de jurados. Motivo do crime, numa palavra: ciúmes. O inquérito policial sob a responsabilidade do delegado Alexsander Esteves Palmeira concluiu que Edmilson não suportava o fato da professora ter-se apaixonado novamente e contraído um novo relacionamento afetivo. Em 2009 o acusado da execução do crime, um verme conhecido como “Bené” suicidou-se. Menos um para nos preocupar. Quanto menos lixo melhor. O mal é uma coisa que o homem comum não pode compreender só por si. Como saber o que na noite em sua consciência pensa ou sente um assassino se nunca matamos deliberadamente ninguém?

Abaixo, o filho de Zelândia, em depoimento no plenário, alegou que a mãe estaria se prostituindo e envolvida com drogas. O promotor vociferou que embora sua mãe estivesse morta ele acabava de matar sua memória e o chamou de “covarde”

“Eu nunca deixei de sentir: dor, dor, dor, dor...” Nirvana

Abaixo, Marilene, irmã de Zelandia, lutou até o fim para fazer justiça a irmã

Edmilson naturalmente negou tudo. Tendo o direito de aguardar as investigações e o desenvolvimento do processo em liberdade por esses 11 anos em que ele rastejou no labirinto da Justiça criou os dois filhos que na época o incriminaram e recentemente se formou em Direito. Qual é o nome disso? E claro, ele fez uma “lavagem cerebral” nas crianças na época com 7 anos, a menina, e 11 anos, o menino, seus filhos, que viviam com a mãe, presenciaram o crime e ouviram os assassinos se referirem ao pai como sendo o manda-morte. No Tribunal do júri o depoimento do filho revoltou a promotoria. O rapaz de 22 anos alegou que sua mãe estaria “se prostituindo e envolvida com drogas.”. O que é uma mentira monstruosa. Eu conheci a Zelândia, menos de um ano antes de seu trágico extermínio ela chegou a morar do lado da minha casa. Na época minha prima tinha me dado uma máquina de escrever daquelas que o Nelson Rodrigues usava para escrever a vida como ela é. Às vezes a professora a tomava emprestado para datilografar as provas que compunha com carinho para seus alunos. Eu me lembro do “Obrigado, Thiago.” E de seu olhar puro e brilhante como um diamante. Olhar de professora brasileira.

Desembrulhando sutilmente a memória vejo Zelândia sorrindo para mim e perguntando se minha mãe está em casa porque precisava conversar com ela. Coisas de mulher. Zelândia era uma mulher bonita, alegre e simpática. Tinha um sorriso cativante, cabelo em cachos, morria de amor pelos filhos e gostava de passar batom lilás. Eu lamento tudo.

Edmilson foi considerado culpado pelo conselho de sentença e condenado a 13 anos de reclusão em regime fechado. Porém pode recorrer da sentença em liberdade. No Brasil a cada 15 segundos uma mulher é seviciada e dez são aniquiladas por dia. Cuide-se, querida leitora. Cuidado com coisas ocas que bombeiam sangue.

"As qualificadoras nada mais são do que agravantes para a pena. Primeiro estabeleceu-se a pena base de 12 anos. Com a existência de outras três agravantes ela acrescentou muito pouco. Temos que acatar. Eu saí do julgamento fortalecido pelo entendimento do Conselho de Sentença. Provamos que o Edmilson era o principal interessado na morte de Zelândia. Tem homens que acham que a mulher é um objeto de sua propriedade" O promotor Francisco Santiago sobre a sentença

“QUANTOS RELACIONAMENTOS MAL SUCEDIDOS VOCÊ PRECISARÁ TER ATÉ QUE COMECE A SE AMAR?” HOUSE DETONANDO SEU MELHOR AMIGO

“Estou cansando de ser
vilipendiado, incompreendido e descartado...
(...)
De quando em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo

O medo de voltar pra casa à noite

Os homens que se esfregam nojentos

No caminho de ida e volta da escola

A falta de esperança e o tormento

De saber que nada é justo e pouco é certo

E que estamos destruindo o futuro

E que a maldade anda sempre aqui por perto...

A violência e a injustiça que existe

Contra todas as meninas e mulheres

Um mundo onde a verdade é o avesso

E a alegria já não tem mais endereço

Clarisse está trancada no seu quarto

Com seus discos e seus livros, seu cansaço.” 

Clarisse, Legião Urbana

Por: Thiago Castilho