Acima: fotos de infância que eu colhi no meu facebook de alguns amigos corajosos. Não identificarei ninguém e por isso só retiro a fotografia mediante ordem judicial.
ANJOS E DEMÔNIOS
7 de outubro de 2012, dia das eleições municipais. Madrugada. Insônia. Desconforto estomacal violento. Dor. 07h00min. Minha mãe: Melhorou? Eu: Não. Talvez seja câncer. Minha mãe: Deus me livre! Se continuar assim terei que te levar para o hospital. O seu Tião morreu, coitado. No dia da eleição. 99 anos. Petista roxo. O sonho dele era completar 100 e ver o PT vencer. Ele disse que dá Rosangela. Eu: Impossível. O Celinho está disparado nas pesquisas. Minha mãe: Eleição é bunda de bebê. Você vai voltar dessa vez? Eu: Sim, faço questão de exercer o meu direito. Minha mãe: Em quem você vota? Eu: “Eu tô com Celinho.”. Mamãe: Eu também. Seu pai é PT, aquele traidor.
Acima: E.E. Perlingeiro de Abreu onde estudei da quinta a oitava série do ensino fundamental
Estou lendo um livro intitulado “O domínio de si mesmo pela autossugestão consciente.”. No livro o mestre ensina um mantra para dizer na hora da dor: “Isso passa, isso passa.”. Fora sua literatura que não é ruim, eu prefiro um bom remédio. Eleição... Democracia... Cidadania... No Brasil o ato de votar é um exercício lúdico. Sol. Abutres. Ao me aproximar do colégio eleitoral em que voto senti aquele cheiro forte do povo brasileiro. Inferno! Por que essa maldita votação não é pela internet? Contudo é um mal necessário. Quando somos crianças não nos importamos em votar ou não votar. Essa vontade aflora na adolescência, o que denota claramente a dissolução da inocência.
Eu estudei nessa escola. Descendo a rampa, subindo as escadas, veio tudo. Infância: quando o mundo é uma miríade de mistérios magníficos. Quem é esta criança olhando para mim? Professores, lições (Como você gostaria de ser tratado? Eis como deve tratar os outros.), travessuras. Meninos e meninas dengosos, mimados e chorões. “Fragmentos de futuro.”. O “Piruzin”, coitado. Na quadra de futebol: enfia a bola, Piruzin, fominha! O Herculano, nada no mundo poderia ser mais feio do que o Herculano. A Nara, a linda Nara tinha uma combinação de átomos mais delicada do que as outras garotas, mas sua beleza soberba não era fruto do esforço pessoal, era apenas um dom deleitoso de Deus.
Segundo o psiquiatra Joel Birman a criança contemporânea perdeu o posto de “Vossa majestade” do tempo de Freud e tornou-se objeto de interesse sexual de adultos abjetos. Por isso a expansão da pedofilia. Não podemos aceitar isso. E pensar que 700 mil crianças passam fome no Brasil enquanto vários políticos eleitos para organizar o caos são condenados por corrupção e desvio de verbas públicas. Agora vejo os limites daqueles que outrora admirava (Decepção!), os de fala macia, inconscientemente indiferentes. A teoria do domínio do fato é mais perigosa do que a impunidade, gênios?
Segundo Bacon “os homens temem a morte como as crianças temem o escuro, e ambos esses medos são aumentos pelas histórias que lhes contam”. Todavia, às vezes, o escuro esconde o perigo, um buraco, um prego, um escorpião. Naquele dia eu fui me despedir do seu Tião e honrar a amizade que tenho por seus netos. Crepúsculo vermelho. A sala de estar estava iluminada por velas fúnebres, aquela cruz de ferro com o Cristo talhado que sempre me perturbou e aquele perfume das ultimas flores. Fitei-o fixamente e em pensamento lhe disse: “Seu Tião, não é que deu PT!? Descansa, profeta.”. Foguetes. Carreata. Histeria popular. Lá fora a vida é uma festa cheia de avestruzes e de surpresas salinas. Se sorrio é porque sei que isso passa, isso passa, as eleições, a infância, a vida, a dor... Tudo passa, meu amor. Morre que passa! Mas no dia seguinte, pela manhã ouvi o coro lúgubre cantando: “Céus e terras passarão, mas tua palavra não passará...”. Será?
Um beijo do observador para todas as crianças do mundo.
Por: Thiago Castilho
É mesmo!! O voto deveria ao menos ser pela internet. Boa ideia!
ResponderExcluirÉ sempre um prazer contribuir para a evolução intelectual do Brasil com ideias visionárias, rss... Um beijo, prof.
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